Quem escreve cartas para seu umbigo? O Gervásio.
12.11.2019
Eu conheci este livro em uma apresentação sobre AUTORREGULAÇÃO da aprendizagem. E a autorregulação não é alguma coisa que nasce com o indivíduo. Neste livro está explicada assim:
A autorregulação não pode ser caracterizada como um conjunto de características dos alunos, mas assim como processos ativados em contexto para alcançar o sucesso escolar. Neste sentido, a regulação do estudo não é um aspecto singular dos alunos, mas sim um processo multidimensional e contextual na sua aplicação. Por este motivo, os processos de estudo interagem com os resultados e os acontecimentos sociais e exigem ajustamento e envolvimento contínuos.
A autorregulação não pode ser encarada, categoricamente, como um traço que os alunos possuem ou não. Pelo contrário envolve a opção seletiva de processos específicos que podem ser utilizados em tarefas concretas de aprendizagem.
(Rosário et al, 2015, p.135)
Daí dá pra começar a entender as cartas do Gervásio. Este estudante chega à Universidade e se depara com realidades e experiências que ele não tinha vivenciado antes. Com todos os conflitos (internos e externos) que ele vai se deparando no seus primeiros dias, primeiras semanas, meses e semestre. Ele começa a participar de alguns ciclos de estudos e de orientação ao estudo, com isso começa a refletir sobre seu dia a dia, suas ações e resultados delas.
São 14 cartas, começando da Carta Zero. Não entendi bem por que numerar a primeira com zero... acho que foi porque é a carta onde ele decide escrever as cartas. Nas outras 13 cartas, cada uma a seu tempo e extensão, conta suas extravagâncias de calouro, estudante, colega, aluno... e vai associando suas peripécias à estratégias de autorregulação.
O livro é uma tradução do projeto original realizado na Universidade do Minho, em Portugal. Veio para o Brasil pelos cuidados de uma professora na Faculdade de Educação da Unicamp, e ali transformou o Gervásio num carinha mais brasileiro [eu ainda encontrei uns traços estrangeiros nele, mas tudo bem!].
O fato é que o Gervásio me surpreendeu positivamente em suas descrições e reflexões sobre seu dia a dia universitário, mas não é um livro só para os estudantes... é também para os professores, ou para qualquer pessoa que queira repensar sua forma de estudar ou conduzir suas ações de aprendizagem. Eu aprendi bastante com ele.
O que é integrar-se-á universidade? Nesta carta o Gervásio fala que, entrou na universidade mas ainda não entrou de cabeça. Tudo para ele era grande e difícil: onde acho a biblioteca? Onde é a secretaria? E os medos associados a sua posição de calouro. Depois as outras cartas vão tratando dos estudos, dos objetivos, de quais outras coisas que ele deveria fazer: esportes, lazer, e até da preguiça.
Com o passar dos dias na universidade ele percebe que precisa melhorar sua atenção nas aulas, de organizar seu tempo para anotar e estudar. Vencer a tal da procrastinação. O livro também apresenta a questão das memórias: como será que é a memória do Gervásio? Ele é mais auditivo, mais visual? Quais as estratégias que se tem para superar o esquecimento daquilo que se estuda.
Outro aspecto bem bacana é que numa das cartas ele vai aprendendo a pensar: quais as perguntas certas a fazer na hora de estudar, na hora de refletir como que resolve um problema. Como é que você separa as partes do problema para ir resolvendo. E na hora de fazer uma avaliação: como que você se prepara para ansiedade normal que que vem com ela?
Depois a segunda parte do livro trata desse projeto, destas cartas e como pode ser utilizado com os estudantes. Neste aspecto eu acho bem interessante para os professores, e alunos também: como podemos usar estas estas cartas num projeto de orientação para a autorregulação?
#ficaadica
Neste link 👇 é possível ler o livro
https://www.topleituras.com/livros/cartas-gervasio-umbigo-2a-edicao-62f6
Conheci o autor, Pedro do Rosário no VII Inovações Curriculares, 2019, na Unicamp. Contou-nos sobre o projeto Gervásio. A pergunta original do projeto era: O que há de comum nos alunos que chegavam à universidade? Com as angustias e dificuldades encontradas a proposta foi a de um projeto que ao PENSAR seus problemas, o aluno os 'nomeasse'. Reificasse-os, e com isso o problema estaria 'fora' dele. E como é que isso ajuda? Com o problema 'fora' do aluno [ou fora de mim, né?] ele [ou eu] poderia 'conversar' com o problema. REPENSAR: ou seja, o aluno 'se pensa' através do Gervásio.
A ideia do projeto também passa pela premissa de que ninguém muda ninguém 'de fora'. A pessoa se 'RECONSTRÓI'. Se reconcilia com suas opções: uma coisa é pensar "Tenho que fazer 😕", outra é "Quero fazer 😀". Uns vão encontrar a ideia da motivação intrínseca e extrínseca nestas afirmativas.
A AUTONOMIA é o que acontece por mim, fruto do meu 'investimento'. Governa o meu agir.
Com o Gervásio é possível perguntar: o que ele me diz? Eu também tenho os problemas dele. Ele me permite pensar nos meus problemas.
...e depois de outras considerações, o Prof. Pedro falou uma frase
que me marcou profundamente [sem trocadilhos, tá 😏?]
As perguntas são escavadoras do conhecimento!